Empresa centenária une tradição e sustentabilidade na produção de erva-mate
Autoria: Jucelli Moreira
Às margens da Rua Adão Tyszka, no Industrial I, dois monumentos chamam a atenção de quem trafega pelo local. A chaleira e a cuia em frente à Ervateira Seleme são um convite ao bom mate produzido em Canoinhas, e que há mais de cem anos vem conquistando espaço no mercado internacional.
Hoje novos elementos somam-se a fachada que já é considerada um cartão-postal do município. Instalados recentemente, os painéis de geração de energia fotovoltaica evidenciam o cuidado com o meio ambiente e a sustentabilidade na produção ervateira. “A erva-mate tem essa característica, de ser um produto que valoriza a natureza, que não polui nem a água, nem o ar e muito menos o solo, porque está em meio a um consórcio de outras árvores. Então se ela já vem de um meio ambiente sem contaminar nada, a indústria também deve respeitar, tendo rastreabilidade e adotando novas práticas que venham promover o desenvolvimento sustentável”, avalia Juliane Seleme Brehmer, diretora da ervateira.
O pioneirismo é uma marca da Ervateira Seleme, a primeira indústria canoinhense do setor a implantar o sistema de geração de energia fotovoltaica. Foi em meados de 1918, que Emiliano Abrão Seleme apostou no município para construir um barracão simples, com soque de madeira, onde produziria a erva-mate cancheada exportada para a Argentina. De Canoinhas, a produção chegava a Mafra por meio de barcos a vapor e seguia de trem até o porto de São Francisco do Sul.
Em 1957, João Abrão Seleme, irmão de Emiliano, assumiu a empresa que, além da Argentina, passou a exportar para o Uruguai e Chile. A indústria ganhou um novo prédio, com o que tinha de mais moderno para a época, buscando atender às necessidades de um mercado em franco crescimento. A empresa também superou a crise que abalou o setor no final da década de 1960, quando a Argentina deixou de importar do Brasil em função de seus enormes ervais plantados na província de Missiones. A recessão no setor ervateiro no país foi uma das causas do fechamento de muitas indústrias, principalmente as exportadoras. Em meio a este cenário, o mate Seleme foi ganhando o paladar Uruguaio, que exigia a erva nativa brasileira.
Se a tradição de cevar um bom chimarrão acompanha o canoinhense há diversas gerações, na família Seleme o legado traz consigo uma responsabilidade ainda maior: a de produzir a erva-mate que serve de base para uma gama de produtos consumidos no exterior. O trabalho iniciado por Emiliano e conduzido por seu irmão, teve continuidade com os filhos de João Seleme, Jaime e Wilson, que em 1998 inauguraram a sede que até hoje funciona na Rua Adão Tyszka. Com a nova gestão, o produto tipicamente canoinhense chegou à Polônia. As conquistas não pararam por aí, em 2010 Wilson Seleme e filhos tornaram-se os principais acionistas da empresa, ampliando as exportações para a Alemanha, Coreia do Sul e Venezuela, tendo seus produtos apreciados nos três continentes.
“Hoje, quase cem por cento de nossas vendas são exportação”, conta Juliane. “Vendíamos para a Argentina, mas depois dos anos 60, 70, foi diminuindo gradativamente até que parou a importação da erva-mate do Brasil. A Venezuela em crise também não está mais comprando. Vendemos para países como Uruguai, Chile, Alemanha, Polônia e Estados Unidos”, destaca. Diferente do sul do Brasil, onde o mate é servido em uma cuia compartilhada nos lares, empresas ou nas rodas de amigos, geralmente acompanhado de boas histórias, em algumas regiões e países as folhas verdes moídas da ilex paraguariensis são consumidas de outras formas, devido às suas propriedades medicinais. “Alguns usam como cápsulas de chá para máquinas de café. Nos Estados Unidos, a erva-mate está entrando como energético e o apelo para este produto é tão grande, que se você olhar no rótulo o nome Yerba Mate é maior que o nome da marca em si”, comenta.
Com a busca pela melhoria da qualidade de vida e adoção de hábitos saudáveis, muitas pessoas passaram a substituir o refrigerante por bebidas naturais, como o chá. Com isso, a expectativa da indústria é de que a erva-mate passe a conquistar novos admiradores. “Eles querem uma bebida mais natural, energética, dietética e nutracêutica, que pode trazer antioxidantes, melhorar a saúde e bem-estar. A erva-mate tem tudo para entrar nesse mercado e atender a esse público”, enfatiza Juliane. Ela relata ainda que em alguns países a erva-mate já é muito mais vendida como base para a produção de chás. “As grandes indústrias do mundo compram o chá-preto da Índia e agora estão comprando nosso chá-mate para incorporar e ter um blend. Então, se você pensar como um novo alimento para o mundo, do Mato Grosso para baixo a única planta que nós temos em grande produção é a erva-mate, que é nossa, exclusiva”, salienta.
Produção sustentável
No centro de Canoinhas, em um prédio no início da Rua Frei Menandro Kamps, o chimarrão acompanha reuniões e atendimentos no escritório do técnico em eletrotécnica Cláudio Erzinger. À frente da Hiletrolar, que há mais de 30 anos atua no segmento de instalações elétricas, Erzinger conheceu as vantagens do sistema de geração de energia fotovoltaica por meio de seu filho, o engenheiro eletricista Rodrigo, e hoje já apresenta diversos cases de sucesso de clientes que apostaram na conversão de energia solar em energia elétrica como forma de reduzir despesas e preservar o meio ambiente. Não é para menos, a empresa foi uma das primeiras do Planalto Norte catarinense a aderir ao sistema fotovoltaico e oferecer esse tipo de serviço com profissionais qualificados.
“Nosso departamento técnico está há aproximadamente quatro anos estudando o funcionamento do sistema fotovoltaico, frequentando cursos e treinamentos e buscando fornecedores confiáveis, sempre focando no melhor custo/benefício para o cliente”, explica Cláudio Erzinger. Antes de oferecer a nova tecnologia aos clientes, a direção da Hiletrolar optou por instalar o primeiro sistema na própria empresa, para acompanhar o dia a dia do funcionamento. “Com isto, geramos economia de quase 90% em nossa fatura de energia elétrica e, após confirmar que o sistema realmente é eficaz na economia de energia, iniciamos a venda e instalação para clientes, que também estão satisfeitos com o funcionamento e com a economia gerada”, relata.
Na Ervateira Seleme a implantação do sistema fotovoltaico chegou para complementar as diversas ações que refletem o compromisso da empresa com o Meio Ambiente. “Nós começamos com a reciclagem do lixo e a destinação correta do óleo, depois fizemos todo um trabalho junto ao Instituto de Meio Ambiente (antiga Fatma), para não ter óleo no pátio. Melhoramos as máquinas para ter o mínimo de resíduo e hoje o que a gente produz é o orgânico, jogado nas plantas aqui mesmo”, explica Juliane. A empresa também conta com cisterna para a coleta de água da chuva e implantou ações que tornaram a Seleme a única ervateira da região a ter boas práticas convalidadas pela Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc).
Para a implantação da energia limpa na Ervateira Seleme, a Hiletrolar desenvolveu uma solução completa que contemplou desde o estudo de viabilidade técnica e econômica ao projeto, fornecimento, execução e comissionamento junto à concessionária de energia local, as Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc). Responsável pelo projeto, o engenheiro eletricista Rodrigo Erzinger conta que o sistema dimensionado pela Hiletrolar possui um inversor com 60 quilowatts de potência e 228 módulos fotovoltaicos de 335 watts, totalizando uma potência instalada de 76,38 quilowatts pico. “Este equipamento é capaz de gerar, em média, 7.800 quilowatts ao mês e deixar de jogar na atmosfera durante esse mesmo período aproximadamente duas toneladas de CO², proporcionando uma economia mensal de aproximadamente 95% do valor pago anteriormente pela energia consumida”, explica Erzinger.
Além da diferença de valores na fatura de energia elétrica, a implantação do sistema na ervateira Seleme também chamou a atenção de novos clientes que a empresa conquistou nos últimos meses. “Colocamos uma foto no site e temos apresentado para cada novo cliente. A foto aérea já mostra que captamos energia solar e que mesmo na área urbana, estamos em meio a uma mini floresta. Eles têm gostado muito disso”, relata Juliane.
Como funciona o sistema de energia solar
Os painéis instalados no telhado da casa ou empresa irão gerar energia elétrica em corrente contínua quando estiverem expostos à luz do sol. A energia gerada passará pelo inversor, que alternará a corrente contínua para corrente alternada, equalizando com a frequência da rede de distribuição da concessionária para que a energia produzida a partir da luz solar esteja igual à da rede elétrica. O sistema é conectado ao quadro de distribuição elétrica da edificação.
A partir dessa conexão, a energia produzida vai sendo utilizada para o consumo da residência, indústria ou empresa. Se a geração solar for maior que o consumo, a energia excedente é destinada à rede da Celesc, que gera um crédito de energia. Esse crédito pode ser utilizado em até 60 meses e será acionado automaticamente quando a propriedade estiver gerando energia inferior ao consumo, em dias de chuva, por exemplo.
“A equipe técnica da Hiletrolar está a disposição para esclarecer dúvidas e orientar aqueles que têm interesse em conhecer mais sobre o sistema de energia solar. Com uma conta de luz em mãos já é possível calcular o tamanho do sistema ideal para o cliente”, explica Erzinger.